terça-feira, 26 de abril de 2016

Encontrando um semi conhecido

Das piores coisas da vida, nada supera o semi conhecido.
Tudo é suportável: Ônibus lotado, fila de lotérica, mesa de refrigerante em festa de criança... Agora adicione o elemento “semi conhecido” nessas situações, piora de uma forma inacreditável! 


O semi conhecido é o cara que você viu duas vezes na vida, trocou meia palavra pro educação, e quando te avista na lotérica, te cumprimentar achando que vai cortar fila, com aquela cara de pau impar! Ou aquela senhora que enquanto você se serve de guaraná numa festa qualquer, estende o copo em direção ao refrigerante não pra apenas ser servida, mas pra começar um assunto chato que vai te fazer perder os parabéns e o trafico de doces no apagar das luzes.

Pense numa tarde de sábado qualquer, o tempo esta quente, culpa de um outono que não mostra o mínimo interesse em aparecer de fato, e acaba deixando o verão fazer hora extra. Você? Você esta cansado, a viagem de volta da barra funda é longa, porem você esta feliz com o que anda fazendo por lá. Eis que quando se aproxima da fila do ônibus, parte final de sua jornada, da de cara com aquele ser sedento por uma boa conversa de elevador, porém não do elevador do seu prédio, o elevador do Word Trade Center, que te da a chance de fazer uma analise detalhada de todas as temporadas da serie Seinfeld antes do 89ª andar!

  

O que você faria? Eu não sei, mas encarnei o Iuran mais monossilábico da história e fui para aquela fila, e a cada passo em direção a ela, me fazia pensar: Sera uma tortura a volta pra casa.

Por que é tão ruim assim? Têm dois tipos de gente: As que têm noção e as que nasceram sem a menor possibilidade de adquiri-la. A mãe de um ex-aluno meu, que me conhece desde os tempos em que me atrevia a tocar violão na igreja do bairro onde cresci, abrirá um sorriso de orelha a orelha ao me ver chegar. 


Ela deve ter separado em casa o assunto: Os melhores momentos da viagem da filha para Brasília com o namorado, namorado esse que ela conheceu no segundo semestre de arquitetura (por isso Brasília, segundo a mãe), e ele é espírita (fato que a deixa preocupada).

Bonita a história, não é mesmo? Daria pra escrever um roteiro de longa metragem com a quantidade de detalhes que ela deu, de uma viagem que ela não fez. E eu conseguiria escrever um livro sobre como é ser torturado com histórias que não somam nem uma virgula no seu dia.

Então dona Maria do Socorro, da próxima vez que me ver, saiba que já contou essa história da sua filha umas três vezes nesses encontros casuais no terminal Guido Caloi. E não, não vou mesmo contar das minhas “namoradas”, ou dos meus planos “pós faculdade”. Saiba que todas as vezes que a senhora me pedia pra voltar a tocar na igreja, durante a viagem que insistia em não acabar, eu torcia pro ônibus bater num poste, mas que só eu me machucasse, pra uma ambulância me levasse pra longe de você.

E talvez o plano desse errado, já que a senhora iria dizer que sou um “semi conhece” seu, e seguiria junto comigo para o hospital.

domingo, 24 de abril de 2016

Mais banal que amor passageiro?

Talvez, só talvez, olhar seus olhos e ganhar seu riso logo de cara tenha sido um dos maiores socos no estômago que já tomei. Não estava pronto pra isso.

Você e seus óculos de ponta me lembravam a Penélope charmosa, tinha o seu cabelo cacheado e de uma cor que brilhava pra mim, não sei bem definir... Sei que ao te ver de perfil pensei: "eu quero namorar essa menina".

Na real mal sabia o seu nome, era uma coisa meio estranha, parece que não tive tempo de perguntar, as idéias bateram rápido demais, seu riso me amimava, as trocas de olhares eram frequentes e eu pensava: "como dizer 'eu te amo' em meia hora de conversa?"

Sei que não amava, nem perto de uma palavra dessa eu estava. Talvez fosse só uma paixão passageira, tipo aquelas que temos quando cruzamos com um desconhecido na rua, e consequentemente imaginamos os próximos 5 anos com aquela pessoa.

Só que tem um problema: imaginamos isso em 6 segundos, o tempo que dura o contato visual com esses estranhos na rua. No nosso caso, ou melhor, no meu, tive a chance de imaginar isso em meia hora ou mais, e foi incrível.

Ninguém conhece os pais em 6 segundos, em 30 minutos também não, mas você conheceu, em meio a alguns risos e cumprimentos engraçados.

Eu queria, naquele dia, ter ido pra casa imaginando seu beijo, imaginando talvez um encontro com café, sem muita pretensão a principio, mas com a intensidade daqueles olhares intensos que trocamos...

O certo aquela noite era não segurar sua mão, eu fiz o errado. O certo era não olhar tanto nos seus olhos (atitude essa que fazia meu coração disparar), eu fiz o errado. O nosso beijo devia ter sido algo tão esperado como o cometa Halley, a gente sabe que vai chegar, pode demorar 60 e tantos anos, mas ele vai acontecer, e será incrível.

A pressa e a perfeição andaram juntas por quase duas horas aquela noite, a combinação perfeita pra um coração que precisava bater com vontade própria e não por obrigação.

E depois? Depois da euforia? Após os beijos desesperados e desajeitados, o que sobrou?

Talvez só eu tenha vivido aquilo tudo. E como o erro da pressa eu tente corrigir, ainda tenho fé no retorno do cometa.